segunda-feira, 2 de julho de 2012

O Movimento Escoteiro na Revolução de 1932



Um pouco de história
Quando Getúlio Vargas subiu ao poder, após o golpe de 1930, não respeitou a autonomia de São Paulo, nomeando um Interventor de fora, não conservando seu Presidente (nessa época os governadores eram denominados Presidentes). Isso desgostou todos paulistas, sobretudo os dirigentes do Partido Republicano Paulista (PRP) que não se conformavam com o fato de São Paulo estar sendo comandado por um "estranho". Foi desencadeada uma grande propaganda contra o governo federal, com os lemas: "São Paulo dominado por gente estranha!", "São Paulo conquistado", Tudo pela Constituição" ou "Convocação imediata da Constituinte". O Interventor João Alberto pediu demissão.
Getúlio nomeou então um paulista, o diplomata Pedro de Toledo, mas era tarde, os ânimos estavam exaltados. São Paulo tinha um Interventor paulista e civil, mas a situação não se acalmou.
No dia 25 de janeiro de 1932, aniversário da cidade de São Paulo, houve um imenso comício na Praça da Sé, colorido com bandeiras de São Paulo. Partidos políticos que eram rivais estavam unidos. O descontentamento foi aumentando e o povo se revoltou.

M.M.D.C.
Em 22 e 23 de maio, estudantes e populares queimaram e empastelaram as redações dos jornais ditatoriais e, nesse conflito, foram mortos pela polícia política da ditadura, entrincheirada nos altos de um prédio da rua Barão de Itapetininga, quatro estudantes de Direito: Mário MARTINS de Almeida, Amadeu MARTINS, Euclides MIRAGAIA, DRÁUSIO Marcondes de Sousa e Antônio Américo de CAMARGO. O nome dos quatro serviu para no futuro designar o movimento paulista: MMDC. O primeiro a morrer foi Camargo, justamente o estudante que era casado e pai de três filhos.
A idéia de revolução tomou conta de todos, sem distinção de classe social. Ninguém podia ficar neutro: ou era a favor ou contra São Paulo! Não se admitia a neutralidade.
Enfim, todos eram a favor. São Paulo estava confiante da vitória, pois contava com o apoio dos militares de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Mas somente Mato Grosso manteve-se leal ao pacto. O comandante da Revolução era o general Isidoro Dias Lopes, apoiado fortemente pelo contingente de Mato Grosso, comandado pelo general Bertoldo Klinger.
No dia 9 de julho de 1932, o Interventor Pedro de Toledo telegrafava ao ditador Getúlio Vargas: "Esgotados os meios que ao meu alcance estiveram para evitar o movimento que acaba de se verificar na guarnição desta Região ao qual aderiu o povo paulista, não me foi possível caminhar ao revés dos sentimentos do meu povo". Começava a Revolução Constitucionalista.

A Revolução
Explode em São Paulo uma revolta contra o presidente Getúlio Vargas. Tropas federais são enviadas para conter a rebelião. As forças paulistas lutam contra o exército durante três meses. O episódio fica conhecido como a Revolução Constitucionalista de 1932. Médicos, engenheiros, químicos, estudantes, operários, padres, freiras, colégios, comerciantes, empresas, associações, indústrias, donas-de-casa e os escoteiros formaram a solidariedade pública. Todos acorreram em massa ao chamado da Revolução. Era a mobilização de todos os recursos humanos e materiais.
Quando se inicia o levante, uma multidão sai às ruas em seu apoio. Tropas paulistas são enviadas para os fronts em todo o Estado. Foram realizados verdadeiros prodígios de técnica, produzindo munição de infantaria, morteiros pesados e leves, granadas de mão e de fuzil, máscaras anti-gases, lança chamas, etc. Foram blindados trens, automóveis, e montados canhões pesados sobre vias férreas.
Mas as tropas federais são mais numerosas e bem equipadas. Aviões são usados para bombardear cidades do interior paulista. 35 mil homens de São Paulo enfrentam um contingente de 100 mil soldados.

Os Escoteiros da Revolução Paulista
A participação dos Escoteiros na revolução constitucionalista foi amais ampla possível. Servindo a Cruz Vermelha Brasileira nos hospitais, entregando mensagens, atuando nas atividades de logística e, inclusive, apoiando os homens na frente de batalha. A luta em favor da democracia orgulhou o próprio fundador do Movimento Escoteiro que elogiou os esforços e o espírito escoteiro de nossos escoteiros.

Aldo Chioratto
Nasceu em Campinas, no dia 05 de outubro de 1922 e foi registrado como Quioratto, nome de seus pais. Pertencia ao Grupo Escoteiro Ubirajara, da Associação dos Escoteiros de Campinas; era aluno do Grupo Escolar Orozimbo Maia.
Durante o conflito havia duas entidades que atuavam na gestão do escotismo a Cruzada Escoteira e a Boy Scout Paulista é muito provável que ele tenha pertencido Cruzada, uma vez que ele estava vinculado a um Grupo Escoteiro de um Grupo Escolar, o que foi muito comum no período.
Quanto a segunda entidade não há possibilidade pois ela atuou apenas na Capital com Escoteiros e no Vale do Paraíba com os Pioneiros que por sinal fizeram um maravilhoso trabalho relatado em um folheto escrito na época por João Mós um dos grandes escotistas que este país teve.
Como escoteiro da Comissão Regional de Campinas e agregado à Cruzada Escoteira Pró-Constituição, foi incorporado nas tropas paulistas, como mensageiro requisitado pelo Coronel Mário Rangel.
Gozava de grande estima dos Oficiais do Quartel General pela sua vivacidade e simpatia. Seu trabalho era transporte e correspondência da estação ferroviária até o Quartel, em Campinas. A revolução estava no seu auge; centenas de vidas já se haviam perdido e São Paulo resistia graças aos seus valorosos soldados e voluntários.

Campinas, por ser entroncamento ferroviário, era muito assediada pela aviação “Legalista” que, com seus “Vermelhinhos” castigava constantemente a cidade e seus postos de resistência.
Em um desses ataques, logo pela manhã do dia 18 de setembro de 1932, uma série de estilhaços – 13 ao todo – atinge o bravo escoteiro que, ferido mortalmente, não abandona seu bornal de mensageiro.
Ele estava entregando correspondência e o local, segundo levantamento feito por Chico Marcondes, foi o corredor de uma residência no centro próximo à estação da estrada de ferro Cia. Mogiana e Paulista.
Aldo Chioratto não resiste a tão forte agressão ao seu frágil, mas valente corpo e vem a falecer em virtude dos ferimentos. Foram 13 estilhaços... 13 são as listas da bandeira de São Paulo.
Aquela criança morria, sacrificada no altar medonho da guerra; aquela criança que, acima de tudo fora leal à sua terra, não respirava mais, mas começava a viver para a eternidade na lembrança dos seus companheiros, do seu chefe, de seus pais, na lembrança do escotismo de São Paulo.
Aldo Chioratto era escoteiro na cidade de Campinas durante o período da revolução constitucionalista de 32.


Uma revolução vitoriosa apesar da derrota
Os paulistas esperavam a adesão de outros Estados, o que não aconteceu. Em outubro de 32, após três meses de luta (85 dias), os paulistas se rendem. Prisões, cassações e deportações se seguem à capitulação.
São Paulo lutou contra vinte e um Estados, embora vencido pela esmagadora superioridade militar da União, São Paulo obteve, sem dúvida, mais cedo do que fora de
esperar, o triunfo de sua causa. O ato de desafio coagiu o Governo a convocar, um ano depois, a tão procrastinada Assembléia Nacional Constituinte.
Preparou-se desse modo o fim do poder discricionário e deram-se os primeiros passos para a elaboração da Carta Constitucional. Com a dissolução do Governo Provisório, uma nova República — a segunda de nossa História — teve seu princípio.
Quem assistiu a Revolução de 32, até hoje não consegue entender aquele entusiasmo de crianças e mulheres fazendo roupas e capacetes para os soldados. Os escoteiros entregavam telegramas. As crianças tocavam na rua, na Av. Paulista, levavam o Getúlio dentro de uma gaiola.
Aqueles que tiveram a oportunidade de viver seu ideal escoteiro naquela ocasião se orgulham, até hoje, de usar seu lenço escoteiro e dizer-se: Eu estive lá e cumpri meu dever de ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião!
Aldo Chioratto é para o escotismo paulista, o protótipo do escoteiro. É, na realidade, a personificação do segundo mandamento da lei escoteira – “o Escoteiro é leal”; foi leal no cumprimento os seus deveres, foi leal aos princípios e à necessidade de ser responsável, mesmo que isso lhe custasse a própria vida.
Outros heróis, como Elias dos Santos Oliveira, de 90 anos, corneteiro da cavalaria, se emociona ao lembrar o passado. ‘‘Era escoteiro quando me convidaram para servir e eu me senti honrado’’, disse Elias.
Os restos mortais de Aldo repousam hoje no Mausoléu Constitucionalista, Ibirapuera, São Paulo, ao lado de outros tantos heróis dessa epopéia. Única criança a transpor o altar e as portas da glória. Sua memória permanece indelével em nossos corações e, como um símbolo iluminado em nosso caminho, brilha para Sempre... Alerta até a Eternidade.