Um
pouco de história
Quando
Getúlio Vargas subiu ao poder, após o golpe de 1930, não respeitou a autonomia
de São Paulo, nomeando um Interventor de fora, não conservando seu Presidente
(nessa época os governadores eram denominados Presidentes). Isso desgostou
todos paulistas, sobretudo os dirigentes do Partido Republicano Paulista (PRP)
que não se conformavam com o fato de São Paulo estar sendo comandado por um
"estranho". Foi desencadeada uma grande propaganda contra o governo
federal, com os lemas: "São Paulo dominado por gente estranha!",
"São Paulo conquistado", Tudo pela Constituição" ou
"Convocação imediata da Constituinte". O Interventor João Alberto
pediu demissão.
Getúlio
nomeou então um paulista, o diplomata Pedro de Toledo, mas era tarde, os ânimos
estavam exaltados. São Paulo tinha um Interventor paulista e civil, mas a
situação não se acalmou.
No
dia 25 de janeiro de 1932, aniversário da cidade de São Paulo, houve um imenso
comício na Praça da Sé, colorido com bandeiras de São Paulo. Partidos políticos
que eram rivais estavam unidos. O descontentamento foi aumentando e o povo se
revoltou.
M.M.D.C.
Em
22 e 23 de maio, estudantes e populares queimaram e empastelaram as redações
dos jornais ditatoriais e, nesse conflito, foram mortos pela polícia política
da ditadura, entrincheirada nos altos de um prédio da rua Barão de
Itapetininga, quatro estudantes de Direito: Mário MARTINS de Almeida, Amadeu
MARTINS, Euclides MIRAGAIA, DRÁUSIO Marcondes de Sousa e Antônio Américo de
CAMARGO. O nome dos quatro serviu para no futuro designar o movimento paulista:
MMDC. O primeiro a morrer foi Camargo, justamente o estudante que era casado e
pai de três filhos.
A
idéia de revolução tomou conta de todos, sem distinção de classe social.
Ninguém podia ficar neutro: ou era a favor ou contra São Paulo! Não se admitia
a neutralidade. Enfim, todos eram a favor.
São
Paulo estava confiante da vitória, pois contava com o apoio dos militares de
Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Mas somente Mato Grosso
manteve-se leal ao pacto. O comandante da Revolução era o general Isidoro Dias
Lopes, apoiado fortemente pelo contingente de Mato Grosso, comandado pelo
general Bertoldo Klinger.
No
dia 9 de julho de 1932, o Interventor Pedro de Toledo telegrafava a Getúlio
Vargas: "Esgotados os meios que ao meu alcance estiveram para evitar o
movimento que acaba de se verificar na guarnição desta Região ao qual aderiu o
povo paulista, não me foi possível caminhar ao revés dos sentimentos do meu povo".
Começava a Revolução Constitucionalista.
A
Revolução
Explode
em São Paulo uma revolta contra o presidente Getúlio Vargas. Tropas federais
são enviadas para conter a rebelião. As forças paulistas lutam contra o
exército durante três meses. O episódio fica conhecido como a Revolução
Constitucionalista de 1932. Médicos, engenheiros, químicos, estudantes,
operários, padres, freiras, colégios, comerciantes, empresas, associações,
indústrias, donas-de-casa e os escoteiros formaram a solidariedade pública. Todos
acorreram em massa ao chamado da Revolução. Era a mobilização de todos os
recursos humanos e materiais.
Quando
se inicia o levante, uma multidão sai às ruas em seu apoio. Tropas paulistas
são enviadas para os fronts em todo o Estado.
Foram
realizados verdadeiros prodígios de técnica, produzindo munição de infantaria,
morteiros pesados e leves, granadas de mão e de fuzil, máscaras anti-gases,
lançachamas, etc. Foram blindados trens, automóveis, e montados canhões pesados
sobre vias férreas.
Mas
as tropas federais são mais numerosas e bem equipadas. Aviões são usados para bombardear
cidades do interior paulista. 35 mil homens de São Paulo enfrentam um contingente
de 100 mil soldados.
Os Escoteiros na
Revolução
A
participação dos Escoteiros na revolução constitucionalista foi a mais ampla
possível. Servindo a Cruz Vermelha Brasileira nos hospitais, entregando
mensagens, atuando nas atividades de logística e, inclusive, apoiando os homens
na frente de batalha. A luta em favor da democracia orgulhou Baden-Powell o
próprio fundador do Movimento Escoteiro que elogiou os esforços e o espírito
escoteiro de nossos escoteiros.
Aldo
Chioratto Nasceu em Campinas, no dia 05 de outubro de 1922. Pertencia ao Grupo
Escoteiro Ubirajara, da Associação dos Escoteiros de Campinas; era aluno do
Grupo Escolar Orozimbo Maia.
Durante
o conflito havia duas entidades que atuavam na gestão do escotismo a Cruzada
Escoteira e a Boy Scout Paulista é muito provável que ele tenha pertencido a
Cruzada, uma vez que ele estava vinculado a um Grupo Escoteiro de um Grupo
Escolar, o que foi muito comum naquele período.
Quanto
a segunda entidade não há possibilidade pois ela atuou apenas na Capital com
Escoteiros e no Vale do Paraíba com os Pioneiros que por sinal fizeram um
maravilhoso trabalho.
Como
escoteiro da Comissão Regional de Campinas e agregado à Cruzada Escoteira
Pró-Constituição, foi incorporado nas tropas paulistas, como mensageiro
requisitado pelo Coronel Mário Rangel.
Gozava
de grande estima dos Oficiais do Quartel General pela sua vivacidade e
simpatia. Seu trabalho era transporte e correspondência da estação ferroviária
até o Quartel, em Campinas. A revolução estava no seu auge; centenas de vidas
já se haviam perdido e São Paulo resistia graças aos seus valorosos soldados e
voluntários.
Campinas,
por ser entroncamento ferroviário, era muito assediada pela aviação “Legalista”
que, com seus “Vermelhinhos” castigava constantemente a cidade e seus postos de
resistência.
Em
um desses ataques, logo pela manhã do dia 18 de setembro de 1932, uma série de
estilhaços – 13 ao todo – atinge o bravo escoteiro que, ferido mortalmente, não
abandona seu bornal de mensageiro.
Ele
estava entregando correspondência e o local, segundo levantamento feito por
Chico Marcondes, foi o corredor de uma residência no centro próximo à estação
da estrada de ferro Cia. Mogiana e Paulista.
Aldo Chioratto |
Aldo
Chioratto não resiste a tão forte agressão ao seu frágil, mas valente corpo e
vem a falecer em virtude dos ferimentos. Foram 13 estilhaços... 13 são as
listas da bandeira de São Paulo.
Aquela
criança morria, sacrificada no altar medonho da guerra; aquela criança que,
acima de tudo fora leal à sua terra, não respirava mais, mas começava a viver
para a eternidade na lembrança dos seus companheiros, do seu chefe, de seus pais,
na lembrança do escotismo de São Paulo.
Aldo
Chioratto era escoteiro na cidade de Campinas durante o período da revolução
constitucionalista de 32.
Quem
assistiu a Revolução de 32, até hoje não consegue entender aquele entusiasmo de
crianças e mulheres fazendo roupas e capacetes para os soldados. Os escoteiros
entregavam telegramas. As crianças tocavam na rua, na Av. Paulista, levavam o
Getúlio dentro de uma gaiola.
Aqueles
que tiveram a oportunidade de viver seu ideal escoteiro naquela ocasião se
orgulham, até hoje, de usar seu lenço escoteiro e dizer-se: Eu estive lá e
cumpri meu dever de ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião!
Aldo
Chioratto é para o escotismo paulista, o protótipo do escoteiro. É, na
realidade, a personificação do segundo
mandamento da lei escoteira – “o Escoteiro é leal”; foi leal no cumprimento os
seus deveres, foi leal aos princípios e à necessidade de ser responsável, mesmo
que isso lhe custasse a própria vida.
Outros
heróis, como Elias dos Santos Oliveira, de 90 anos, corneteiro da cavalaria, se
emociona ao lembrar o passado. ‘‘Era escoteiro quando me convidaram para servir
e eu me senti honrado’’, disse Elias.
Os
restos mortais de Aldo repousam hoje no Mausoléu Constitucionalista,
Ibirapuera, São Paulo, ao lado de outros tantos heróis dessa epopéia. Única
criança a transpor o altar e as portas da glória. Sua memória permanece
indelével em nossos corações e, como um símbolo iluminado em nosso caminho,
brilha para Sempre... Alerta até a Eternidade.
Uma
revolução vitoriosa apesar da derrota
Os
paulistas esperavam a adesão de outros Estados, o que não aconteceu. Em outubro
de 32, após três meses de luta (85 dias), os paulistas se rendem. Prisões,
cassações e deportações se seguem à capitulação.
São
Paulo lutou contra vinte e um Estados, embora vencido pela esmagadora
superioridade militar da União, São Paulo obteve, sem dúvida, mais cedo do que
fora de esperar, o triunfo de sua causa. O ato de desafio coagiu o Governo a
convocar, um ano depois, a tão procrastinada Assembléia Nacional Constituinte.
Preparou-se
desse modo o fim do poder discricionário e deram-se os primeiros passos para a
elaboração da Carta Constitucional. Com a dissolução do Governo Provisório, uma
nova República — a segunda de nossa História — teve seu princípio.